Editorial

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Foto Kraw Penas


Os primeiros anos do século XXI são caracterizados, entre outras questões, pela predominância de textos em primeira pessoa, seja nas redes sociais, na conversa cotidiana e em expressões artísticas. O “eu” se manifesta exageradamente, inclusive na literatura.

O Cândido entrevistou escritores brasileiros e estudiosos para saber se, de fato, o texto em primeira pessoa é o mais praticado atualmente. A professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Rejane Rocha afirma que, pelo menos por parte da crítica, há um interesse maior em discutir a narrativa em primeira pessoa como sintoma de uma época que valoriza o “real” — daí o apelo de biografias, documentários e reality shows.

Já o professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Gustavo Bernardo não acredita, por exemplo, que há um excesso de textos em primeira pessoa, mas sim atenção exagerada ao fenômeno. “A emergência de muitos textos em primeira pessoa me parece ter outra razão. Configura uma espécie de reação à onipresença dos narradores oniscientes em terceira pessoa, característica do paradigma realista do século XIX”, argumenta Bernardo.

O debate é amplo e conta com a participação do professor da Universidade de Brasília (UnB) Alexandre Pilati e dos escritores Altair Martins, Carlos Eduardo de Magalhães e Luiz Antonio de Assis Brasil. Além disso, a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Márcia Ivana de Lima e Silva explica, em um ensaio, o motivo pelo qual, no entendimento dela, há uma predominância da primeira pessoa no romance contemporâneo brasileiro.

Outro destaque da edição 56 do Cândido é uma entrevista com Matinas Suzuki Jr, jornalista e editor, que tem entre os destaques de seu currículo passagem pela Folha de S.Paulo, pelo programa Roda Viva, da TV Cultura e, atualmente, pela Companhia das Letras, onde idealizou a coleção “Jornalismo Literário”, que trouxe ao leitor brasileiro algumas das reportagens mais célebres publicadas em jornais e revistas ao longo do século XX. Na Companhia, também ajudou no lançamento da Penguin no Brasil, que resultou em edições que revalorizam clássicos da literatura mundial. Neste bate-papo, ele comenta alguns destalhes e questões de seu percurso profissional, que coincide com momentos relevantes da história cultural recente do Brasil.

A edição de março do Cândido publica, entre os inéditos, conto de Marcelino Freire, poemas de Ademir Demarchi e Juliana de Meira, fragmento de um romance, ainda sem título, de Leandro Sarmatz, e um trecho de Abaixo do paraíso, romance de André de Leones, previsto para ser lançado ainda neste mês pela editora Rocco.

A seção “Na Biblioteca” apresenta a coleção de livros de Key Imaguire (foto), idealizador da Gibiteca de Curitiba, enquanto o “Perfil do leitor” traz Nelson Hoineff, o experiente jornalista, produtor e diretor de televisão.

Boa leitura!