Editorial

Literatura, no Brasil, é coisa séria. É o que a 31ª edição Cândido revela. Ficções calcadas no humor nunca frequentaram as listas de mais vendidos ou os corações dos críticos. Apesar de D. Quixote, o livro fundador do romance moderno, ser uma obra cuja sátira é matéria-prima, por aqui parece que a literatura é mais chegada a dramas, contrariando todos estereótipos de alegria impingidos ao longo de séculos ao Brasil e aos brasileiros.

Escritores, críticos e professores dão suas opiniões sobre essa aparente contradição de nossa cultura — ou seria dos leitores? “Acho que, em geral, as pessoas são bem-humoradas, não só no Brasil. Basta conversar com qualquer uma num bar. O diabo é que, no momento em que a pessoa pega uma caneta ou senta diante de um teclado, baixa um santo tenebroso e ela já se imagina tomando chá na academia”, diz o escritor Ernani Ssó, que traduziu a mais recente edição em português do clássico máximo de Cervantes.

Mas há exceções. E ótimas exceções. O romancista e roteirista Mario Prata traz aos leitores do Cândido uma história hilária sobre Rui Barbosa, a Águia de Haia, em um ótimo exemplo de texto literário que incorpora de forma brilhante o humor.

Ganhador do Prêmio Portugal Telecom em 2013 na categoria romance, o pernambucano radicado nos Estados Unidos José Luiz Passos fala sobre sua trajetória na literatura e seus métodos de escrita em uma longa entrevista. A edição de fevereiro também traz uma seleta de poetas, de diversas partes do país, que estão fazendo a nova poesia brasileira contemporânea, em versos assinados pelo paranaense Ademir Demarchi, pela gaúcha Veronica Stigger e pelos mineiros Mário Alex Rosa e Adriane Garcia, a grande vencedora do Prêmio Paraná de Literatura 2013 na categoria Poesia.