Editorial

Experimental? Transgressor? Multimídia? Hipermoderno? Um mestre da colagem literária? Tudo isso, bem mais do que isso. Maria Salete Borba é autora de dissertação de mestrado e tese de doutorado sobre a obra de Valêncio Xavier e ela o define, acima de tudo, como artista.

A definição vem a calhar.

Valêncio Xavier (1933-2008) foi um inclassificável. Décio Pignatari se espantou com O mez da grippe (1981) e disse que a novela seria o romance mais inventivo das Américas naquele contexto. Paulo Leminski o chamou de Minotauro de Curitiba, por causa do livro O Minotauro (1985), e depois ressaltou que ele seria o mais japonês dos escritores brasileiros, em texto de apresentação do livro O mistério da prostituta japonesa & Mimi-Nashi-Oichi (1986). Na Folha de S.Paulo, ele foi rotulado de o “Frankstein de Curitiba”, entre outros motivos, por ser um pioneiro na fusão de texto e imagem.

Valêncio nos deixou há cinco anos. Durante essa ausência, o legado dele faz eco. Dentro das universidades, multiplicam-se estudos sobre o que produziu. A professora Ângela Maria Dias, da Universidade Federal Fluminense, escreveu um artigo para esta edição do Cândido comentando os procedimentos do autor a partir de Rremembranças da menina de rua morta nua (2006), aquele que foi o último livro organizado por Valêncio ainda em vida.

A família garante que não há inéditos. Luci, a viúva, e Ana, a filha, dizem que, a partir de agora, o que deve acontecer são reedições dos títulos do autor — conteúdo da reportagem de Marcio Renato dos Santos, que recupera fragmentos do percurso do escritor que flertou com o cinema, escreveu em parceira (A propósito de figurinhas, de 1986, é obra em conjunto com Poty Lazzarotto), dirigiu equipamentos públicos, atuou em televisão e no jornal Gazeta do Povo.

O Cândido também publica um texto que o genial Valêncio, como ele mesmo se autodenominava, produziu para um jornal curitibano. Tem relação com o período de férias que se aproxima e traz o humor desse personagem único da cultura paranaense e brasileira. Amigos e interlocutores de Valêncio também estão presentes, por meio de depoimentos, nesta edição, uma homenagem-tributo ao múltiplo inventor da realidade.

Boa leitura.