Editorial

Wilson Bueno carregou a marca da inquietação durante toda sua trajetória intelectual. Escritor dos mais inventivos, mesclou poesia e prosa, português e castelhano, dando a seus romances um caráter imensamente original. Sua literatura trafegava entre Guimarães Rosa e Lezama Lima sem resvalar no pastiche. A mesma inquietação fez de Bueno um jornalista reconhecido e admirado no Brasil — e fora dele, já que ganhou prêmios internacionais — durante sua bem-sucedida jornada à frente do Nicolau, o mítico jornal literário que ele editou por sete anos, entre as décadas de 1980 e 1990, em Curitiba.

É esse espírito libertário que norteia os textos de José Castello e Joca Reiners Terron publicados nesta edição do Cândido, que homenageia Bueno, morto há um ano. “Éramos então o próprio Nicolau, e através de sua absorção periódica nos tornávamos um pouco representantes da geração de escritores publicada em suas páginas. Havia um iceberg emergindo ali que representava a ponta da literatura a ser produzida na década seguinte. Em suma, ao sermos todos nicolaus, nos tornávamos — matogrossenses, paulistas, cariocas — um tanto paranaenses”, escreve Terron a respeito da influência do jornal sobre sua geração.

Esta edição do Cândido traz ainda crônica inédita de Ronaldo Correia de Brito, um poema de Alberto Martins e um conto de Carlos Machado. Luiz Ruffato, que se prepara para lançar Domingos sem Deus, o quinto volume da série “Inferno Provisório”, e Humberto Werneck, que acaba de ter lançada a coletânea de crônicas Esse inferno vai acabar, falam sobre seus novos projetos e rememoram suas trajetórias como escritores. Uma edição que pretende apresentar um panorama diversificado de nossa literatura contemporânea. Algo que Nicolau e Wilson Bueno fizeram de forma brilhante durante muitos anos.

Boa leitura a todos.