Dalton e eu: O microcontista que quer ser Dalton Trevisan

Marcelino Freire

Dalton é grande, é imenso.

Palavras minhas é que são assim, pequenas.

Tão poucas, que não poderiam resumir, neste humilde espaço, a genialidade deste escritor. Meu, de cabeceira, faz tempo.

Um dos primeiros autores que li e que me influenciaram, ainda adolescente, quando eu morava no Recife.

Perguntava-me, àquela época: e podemos escrever assim, curto?

Dalton escrevia.

Hoje, bem sei, descubro: Dalton escreve, na verdade, longo, perpétuo, denso. Seus personagens demoram em nosso pensamento. São assombrosas sombras assustadoras.

Uma vez, em artigo na Folha de S. Paulo, afirmei: Dalton Trevisan, meus caros, não escreve rápido, não escreve na velocidade da luz. Escreve, sim, é bom que se diga: na velocidade da sombra. Os ambientes que ele cria como ninguém. A prece profana, a ladainha sacana de seus personagens. Profundamente humanos.

Dalton é um patrimônio da humanidade.

De Curitiba estende ao Brasil e ao mundo a sua linguagem – concisa, na medida, desmedida. Não tem quem segure o Dalton. Não tem quem agarre. É autor sempre em fuga – da mesmice. Da caretice que impera, por exemplo, na nossa vidinha literária.

Aprendo (e apreendo) sempre com o mestre.

Todo livro que ele escreve, estou eu lá, a acompanhar o que ele veio desta vez aprontar: ora poeta, ora, até, rapper. Podem observar: como os ouvidos (e os parágrafos) do Dalton estão sempiternamente abertos aos novos sons e gestos da rua. Inquieto e eterno em sua escritura. Viva! E sem tamanho.

Dalton é alto. É gigante.
 
O que não impede, no entanto, que eu venha, aqui, publicamente beijar os seus pés.

E dizer, a quem quiser saber: microcontista que eu sou, como quero ser Dalton Trevisan quando eu crescer!


Marcelino Freire é escritor. Autor, entre outros, de Contos Negreiros e do recém-lançado Amar é crime. Vive em São Paulo (SP).