Curiosidades

Isso aí é Thomas Pynchon

João Lucas Dusi

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Estreia precoce
Thomas Pynchon tinha 26 anos quando publicou V., seu romance de estreia, em 1963. A obra reflete a admiração do autor norte-americano pela contracultura, tendo personagens como o ex-marinheiro beberrão Benny Profane e os artistas independentes da Turma Muito Doida. Além da bebedeira, diálogos absurdos e humor duvidoso, Pynchon cria um clima constante de paranoia através do obcecado Herbert Stencil e sua busca incessante pela antiga e enigmática V., que pode ser tanto um clérigo androide travestido de mulher quanto apenas uma ideia. No Brasil, o livro foi publicado em 1988, com tradução de Marcos Santarrita. 

Amizade
Na dedicatória do romance O arco-íris da gravidade, considerado a obra-prima de Thomas Pynchon, lê-se: “Para Richard Fariña”. Pouco conhecido do público brasileiro, Fariña foi colega de quarto de Pynchon nos anos 1950, quando os dois estudaram na Universidade Cornell, e teve uma carreira literária meteórica: morreu num acidente de moto dois dias após a publicação de seu primeiro romance, Been down so long it looks like up to me, em 1966. A obra veio para o Brasil com o título Tanto tempo na pior que o que pintar é uma boa (1985), atualmente fora de catálogo, disponível somente em sebos. Além disso, Pynchon foi padrinho de casamento de Fariña. 

No cinema
Vício inerente, sétimo romance de Thomas Pynchon, foi adaptado para o cinema em 2014. Com a direção de Paul Thomas Anderson, o filme traz, entre outros, Joaquin Phoenix no papel do protagonista “Doc” Sportello, um detetive particular hippie que utiliza maconha e LSD para se inspirar, Josh Brolin interpretando o sádico tenente-detetive “Pé-Grande” Bjornsen, que dedica boa parte de seu tempo a atazanar Sportello, e Katherine Waterston na pele de Shasta Fay, ex-namorada de “Doc” que o contrata para investigar o sumiço de um figurão. A partir dessa premissa, a trama segue a fórmula pynchoniana: incertezas, drogas, conspirações e alternância entre momentos do mais absurdo pastelão e situações de grande sensibilidade. O filme recebeu duas indicações ao Oscar em 2015. 

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Bem-humorado
Notório por sua aversão a repórteres e entrevistas, Pynchon dublou a si mesmo em dois episódios do desenho Os Simpsons — “Desabafos de uma dona de casa furiosa”, 10º episódio da 15ª temporada, e “Vale tudo na guerra da cozinha”, 2º episódio da 16ª temporada. Em sua segunda aparição, enviou para o produtor executivo da série, Matt Selman, algumas alterações no roteiro, pois se recusou a chamar Homer Simpson de fat ass (“bunda gorda”), alegando que Homer — um beberrão, notório por sua burrice — é seu role model (“modelo a ser seguido”). Em ambas ocasiões, o personagem de Pynchon aparece com um saco de pão na cabeça.

Pulitzer negado
Em 1974, os jurados do Prêmio Pulitzer foram unânimes quanto à escolha do melhor livro de ficção: O arco-íris da gravidade, terceiro romance de Thomas Pynchon. O calhamaço, de 731 páginas (na versão brasileira relançada em 2017, com tradução de Paulo Henriques Britto), se passa no ambiente sórdido da Europa ao final da Segunda Guerra e traz personagens como o tenente americano Tyrone Slothrop, que possui ereções capazes de antecipar o local da queda de foguetes nazistas supersônicos, os V-2. Apesar da unanimidade entre os jurados, o comitê organizador do Pulitzer, que detinha a palavra final, considerou o livro “obsceno” e “ilegível”, entre outros adjetivos, e o prêmio foi negado. Antes disso, em 1941, o também escritor norte-americano Ernest Hemingway sofreu o mesmo tipo de retaliação. Após decisão unânime pela vitória do romance Por quem os sinos dobram, um dos membros do comitê, Nicholas Murray Butler, alegou que o livro era “ofensivo” e “lascivo”, e o prêmio acabou negado. 

Inédito
Apenas um livro de Thomas Pynchon ainda não foi traduzido no Brasil. No hiato de 17 anos entre a publicação de O arco-íris da gravidade (1973) e Vineland (1990), foi lançada nos Estados Unidos a coletânea Slow Learner (1984), que reúne cinco contos do autor escritos entre os anos de 1959 e 1964. A obra traz uma introdução elucidativa do próprio Pynchon, que julgou seus escritos mais antigos com autocrítica, numa rara ocasião em que abriu o jogo sobre seu modo de pensar a ficção. Além disso, os contos “Lowlands” e “Under the rose”, publicados, respectivamente, em 1960 e 1961, marcam as primeiras aparições dos personagens Pig Bodine, Porpentine, Goodfellow e Victoria Wren, esses que seriam retomados em seu romance de estreia, V. (1963). 

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Para os obcecados
A obra de Thomas Pynchon é notória por sua complexidade, contendo diversas referências e uma miríade de personagens, além de longas digressões e enredos fragmentados. Aos que não se arriscam enfrentar esse autor por conta própria, a Pynchon Wiki — disponível somente em inglês — oferece muitas informações sobre seus oito romances: lista completa de personagens (fictícios e reais), anotações página por página, esclarecimentos acerca das referências e acontecimentos históricos, resenhas publicadas em grandes veículos, entre outras informações. Qualquer pessoa pode se registrar e, caso seja aceita, contribuir com o site. 

Ousadia linguística
Em Mason & Dixon, seu quinto romance, Pynchon não só recontou a história dos cientistas Charles Mason (1728-1786) e Jeremiah Dixon (1733-1779), responsáveis pela criação da Linha Mason-Dixon, que separou o Norte progressista do Sul escravagista dos Estados Unidos, como utilizou um pastiche do inglês setecentistas para narrar essa empreitada. A obra tem 842 páginas (na edição brasileira lançada em 2004, com tradução de Paulo Henriques Britto) e levou 22 anos para ser escrita. A primeira vez que Pynchon menciona estar trabalhando no livro foi em 1975, em uma carta à sua agente na época, Candida Donadio. A publicação da obra, no entanto, só aconteceu em 1997.  

50 anos depois
O último grito (2013), mais recente romance de Thomas Pynchon, foi publicado 50 anos após a estreia do autor — no Brasil o livro chegou em 2017, com mais uma tradução de Paulo Henriques Britto. A história, claro, traz todos os elementos da prosa pynchoniana (paranoia, personagens excêntricos, tramas circulares), com um toque de romance policial no centro da narrativa. Maxine Tarnow, especialista em fraudes fiscais, é contratada por um documentarista para investigar as movimentações suspeitas de uma start-up. A trilha do dinheiro desviado leva a Gabriel Ice, misterioso investidor que anda interessado em comprar o código-fonte do DeepArcher, um novo videogame que transforma a deep web numa realidade virtual habitável. Ice também estaria financiando grupos terroristas no Oriente Médio. Anunciado como o grande romance sobre o 11 de Setembro, O último grito, em sua essência, é uma crônica familiar, destrinchando as relações e os sentimentos de Maxine, mãe de dois filhos pequenos e recém-divorciada.