Cândido indica

Escravidão — Volume 1
Laurentino Gomes, Globo Livros, 2019
Depois de ganhar notoriedade com três livros que remontam a história do Brasil até a Proclamação da República (1808, 1822 e 1889), o escritor e jornalista paranaense Laurentino Gomes inicia uma nova trilogia, sobre a escravidão no país. O primeiro volume passa pelo começo dos leilões de cativos em Portugal, no século XV, e segue até a morte de Zumbi dos Palmares, já em território nacional, em novembro de 1695. Ao investigar os primeiros 250 anos dessa “tragédia humanitária de proporções gigantescas” (em uma obra que levou seis anos para ficar pronta e traz imagens, mapas e tabelas), o autor relata o princípio do que foi a “experiência mais determinante na história brasileira”.

Setenta
Henrique Schneider, Não Editora, 2019
No romance que venceu o Prêmio Paraná de Literatura 2017 e foi publicado originalmente pelo selo Biblioteca Paraná, o gaúcho Henrique Schneider constrói um breve panorama dos anos de chumbo da ditadura militar brasileira, em uma narrativa que “naturaliza” a violência do período, com descrições viscerais e cinematográficas. A história se passa às vésperas da final da Copa do Mundo de 1970, quando o bancário Raul é confundido com um militante e acaba preso. No cativeiro, o “comunista de merda”, como é tratado pelos militares, é torturado de diversas formas por nove dias, até que o verdadeiro Raul é encontrado. Em liberdade, o protagonista passa a viver em constante paranoia.

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Bula para uma vida inadequada
Yuri Al’Hanati, Dublinense, 2019 
Segundo o cronista Luís Henrique Pellanda, o carioca radicado em Curitiba Yuri Al’Hanati parece já ter escolhido “seu figurino e suas obsessões” neste livro de estreia. Em 43 crônicas breves, o autor passeia por diversos países “exóticos”, como Albânia e Sérvia, e se concentra em situações aparentemente banais do cotidiano, explorando a essência desse gênero literário — o olhar inusitado sobre miudezas da vida. O que mais chama a atenção, no entanto, é o fato de o narrador manter um certo distanciamento das situações, como se não pertencesse totalmente ao momento, evidenciando o que parece ser um dos pilares da sociedade pós-moderna: o deslocamento social.

Poemas de amor ainda
Antonio Thadeu Wojciechowski, Bernúncia, 2019 
A poesia leve e jovial do “Polaco da Barreirinha”, um dos veteranos da geração mimeógrafo em Curitiba, está presente neste livro que reúne poemas antigos e inéditos em mais de 300 páginas. A edição atesta a maturidade do artista que domina a maioria das formas poéticas, do soneto ao haicai, da rima ao verso livre. Um dos destaques é o longo poema “Imagem e Semelhança”, que retrata a criação do mundo de maneira bem-humorada e musical em 23 quadras, com versos de sete sílabas, habilmente orquestradas. Ao fim do livro, o poeta ainda brinda o leitor com traduções de alguns dos poetas mais célebres da História, como Rimbaud, Shakespeare, Maiakóvski, Baudelaire, Yeats e Szymborska.