Cândido indica

Vozes de Tchernóbil
Svetlana Aleksiévitch, Companhia das Letras, 2016
(Trad.: Sônia Branco)
Antes do enorme sucesso da série Chernobyl, da HBO, a história do maior desastre nuclear do mundo já havia sido contada neste livro da Prêmio Nobel de Literatura Svetlana Aleksiévitch. Aqui, ela esmiúça a catástrofe sem precedentes ocorrida na Ucrânia, em 1986, quando uma explosão seguida de incêndio na usina de Tchernóbil lançou partículas radioativas na atmosfera da extinta União Soviética e se alastrou por boa parte da Europa. A partir de depoimentos de bombeiros, cientistas, soldados e moradores da região, Svetlana constrói uma “história oral” desse terror, em que chama atenção o descaso total dos governantes diante da situação.

Queer
William S. Burroughs, Companhia das Letras, 2017
(Trad.: Christian Schwartz)
“O junk não apenas curtocircuita a energia sexual como, dependendo da dose, oblitera as reações emocionais quase a ponto de fazê-las desaparecer.” Tentando ficar longe da droga pesada, principalmente da heroína, o protagonista de Queer (escrito em 1952 e publicado pela primeira vez apenas em 1985), William Lee, encontra-se num estado lamentável de vulnerabilidade. Sem a segurança que encontrava no opiáceo, resta-lhe flanar pelos botecos, tentando — humilhantemente — se aproximar de Eugene Allerton. Depois de algum esforço, e de jogar toda sua dignidade no lixo, Lee consegue o que queria e parte com seu amante para a América Latina, em busca de uma possível salvação alucinógena.

...
...
...
...


O Som e a Fúria
William Faulkner, Cosac Naify, 2012
(Trad.: Paulo Henriques Britto)
Publicado em 1929, o romance narra a história de uma família decadente numa sociedade idem. Um livro desafiador, que em alguns momentos remete à Bíblia e à tragédia grega, e cujo grande protagonista é o tempo, com seu andamento indiferente e impiedoso. Faulkner dá voz a quatro personagens para narrar, a partir de vários ângulos, a trágica queda dos Compson, num Mississipi agonizante, ainda marcado pela derrota dos Estados Confederados na Guerra Civil. Usando e abusando do fluxo de consciência, e com saltos vertiginosos no tempo, o autor pinta um quadro familiar gigantesco, complexo e fascinante, com tintas de sangue, paixão, orgulho, tristeza, sofrimento e — claro — muito som e fúria.

Primeiras Estórias
João Guimarães Rosa, Nova Fronteira, 1988
Publicado em 1962, o livro traz o neologismo “estória” no título para marcar com bastante ênfase que se tratam de contos não apenas fictícios, mas, em alguns casos, até mesmo fantásticos ou absurdos. O termo “primeiras”, por sua vez, serve para indicar que os textos são suas incursões iniciais no gênero narrativo mais breve e conciso. Considerado por muitos como a melhor porta de entrada para a obra de Guimarães Rosa, esta coleção de 21 textos narra “causos” do sertão com vários temas, humores, tons e tratamentos. Destaque para os contos “A Terceira Margem do Rio”, “Pirlimpsiquice” e “O Espelho”.