Cândido indica

O artista da faca
Irvine Welsh, Rocco, 2018
Os icônicos personagens de Trainspotting continuam rendendo nas mãos de Irvine Welsh. Desta vez quem está na mira do escritor escocês é Francis “Franco” Begbie, que também aparece em Skagboys e Pornô, livros que completam a trilogia inciada com Trainspotting. Franco ganha uma surpreendente roupagem em O artista da faca. Agora ele é um pai de família, está casado com a sua terapeuta de tempos da prisão, uma americana rica, e mora na Califórnia com duas filhas pequenas. Ele faz sucesso e dinheiro produzindo esculturas mutiladas de celebridades. Muita calmaria para o hooligan Franco, que depois de um episódio de violência sofrido por sua mulher, volta à velha forma delinquente que o consagrou. 

Iniciantes
Raymond Carver, Companhia das Letras, 2008, Tradução: Rubens Figueiredo
O autor americano Raymond Carver teve uma vida cheia de altos e baixos, principalmente por conta do alcoolismo. Em 1981, ele despontou como um renovador do conto americano ao publicar a coletânea What we talk about when we talk about love. Porém, os contos do livro tinham sido bastante modificados pelo editor da obra, Gordon Lish. Em Iniciantes, as histórias são novamente publicadas, mas desta vez na íntegra, da maneira que foram concebidas. Aqui pode-se perceber a engenhosidade literária de Carver, que aposta em uma linguagem coloquial e enxuta para contar histórias igualmente simples, de gente normal que vive dramas reais. O destaque é a narrativa que dá nome ao livro, uma espécie de conto-aula de como construir diálogos e personagens.

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Memória de elefante
António Lobo Antunes, Objetiva, 2006
A estreia de Lobo Antunes na ficção com Memória de elefante (1979) causou tanto impacto que ele largou a medicina para se dedicar com exclusividade à literatura. Com lances autobiográficos, o romance é conduzido por um médico atormentado por uma crise existencial. Recém-separado, o narrador é enredado por uma espiral de sentimentos que a todo momento o fazem lembrar dos erros do passado recente e das incertezas do futuro próximo. A narrativa se passa em apenas um dia, entre devaneios e sonhos do protagonista. A linguagem de Lobo Antunes, bastante fragmentada, ajuda a criar uma atmosfera onírica para as memórias de um homem comum abalado pelos obstáculos da vida adulta. 

Meu tio Roseno, a cavalo
Wilson Bueno, Editora 34, 2000
Leitor voraz e fiel de João Guimarães Rosa, Wilson Bueno presta um tributo ao mestre da linguagem neste Meu tio Roseno, a cavalo. Mas não se trata de mashup literário, ou emulação picareta, Bueno constrói uma vereda particular para narrar a história do tio Roseno, que segue por estradas tortas em busca da filha que teve com a bugre Doroí. No ritmo da cavalgada, a narrativa se embrenha por bifurcações linguísticas criadas por Bueno e em sintonia com a região percorrida pelo personagem, no caso Guaíra, no limite paranaense entre Brasil e Paraguai. 

Pescados vivos
Waly Salomão, Rocco, 2004
Waly Salomão mostrou em seu último livro que a verve inquieta que marcou sua trajetória como bardo ainda pulsava forte. Rebelde, culto, sensível e engraçado, Waly mistura sua conhecida espontaneidade com a experiência de uma vida inteira de bons serviços prestados à literatura, como poeta e leitor. As referências que prezava estão por todo o livro, seja de forma explícita ou velada, como em “Fax, Fac simile”, em que se permite escrever em francês. Em outra frente, o poeta encara o satírico, como em “Procissão do encontro”, uma piada com o clássico cristão “Jesus Cristo”, de Roberto Carlos, definida como uma “pobre ladainha melancólica”. “Em Pescados vivos, tudo que cai na rede Waly é peixe.”