Cândido indica

Gog Magog
Patricia Melo, Rocco, 2017
O silêncio, artigo de luxo no mundo moderno, não cabe no bolso do narrador-protagonista deste romance — um cansado professor de biologia que não aguenta mais a barulheira feita pelo vizinho do apartamento de cima, Ygor, o Senhor Ípsilon. Quando o incômodo se torna insuportável para o protagonista inominado, que vive um casamento falido e se sente frustrado com seus alunos semianalfabetos e violentos, a saída possível se apresenta através do que há de mais primitivo no ser humano: a violência. É com prosa ágil e precisa que Patrícia Melo narra essa empreitada animalesca, explorando a mente de um homem obcecado por seus próprios direitos, mas cego para o mundo que o cerca. 

Os Bêbados Amam Demais
Antonio Thadeu Wojciechowski, Edição do autor, 2010
Para escrever esta “novelha” de 10 capítulos — com ilustrações e projeto gráfico do artista visual Magoo —, o poeta curitibano Antonio Thadeu Wojciechowski se inspirou n’A divina comédia, de Dante Alighieri. Por meio de um eu-lírico apaixonado, bêbado e brigão, o poeta conta a história — em dodecassílabos — de uma noitada libertina no bar do Jair. Apesar das pancadarias e dos beberrões enjoados, há também gargalhadas, baldes de caipirinha, muita cerveja, churrasco e reflexões filosóficas, de modo que a festa sem fim se apresenta como uma maneira de driblar a “infinita miséria” de ser, de tentar se manter equilibrado no “fino fio da esperança/ De que tudo um belo dia será bem melhor”, mesmo que o final seja trágico, sangrento. 

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O Incêndio
Alexandre Staut, Folhas de Relva, 2018
Incêndio literal vai acontecer apenas na última frase deste romance de Alexandre Staut. A informação não se configura spoiler, uma vez que a proposta da narrativa é, na realidade, tudo o que antecede os fogos que vão destruir a biblioteca de uma cidade, não identificada, do interior do Brasil. O incêndio problematiza a formação da personalidade de Antonio, um bibliotecário que se descobre gay durante a adolescência e não consegue assumir o que realmente é em uma pequena cidade. A leitura, os livros e o mundo da imaginação se apresentam como alternativa existencial para o personagem elaborado por Staut, também artista visual e editor, autor de Paris-Brest, obra que recria o período em que o escritor, nascido em Espírito Santo do Pinhal (SP) e radicado na capital São Paulo, trabalhou como cozinheiro na França.

A Redoma de Vidro
Sylvia Plath, Editora Globo/ Biblioteca Azul, 2014 (Tradução: Chico Matoso)
Mais conhecida como poeta, Sylvia Plath (1932-1963) escreveu um único romance, A redoma de vidro, publicado um mês antes do suicídio da autora. A obra trata de suicídio, mas também traz outras questões, entre elas inadequação social, descoberta da sexualidade e distúrbios psiquiátricos. A narrativa acompanha o percurso de Esther Greenwood, uma jovem interiorana que vai passar uma temporada trabalhando em uma revista de moda em Nova York. Ela não se enturma com o pessoal que frequenta eventos, festas e jantares. Em seguida, Esther, que apresenta transtornos mentais e é depressiva, passa a ser internada em clínicas, onde é “tratada” com choques elétricos. Uma recriação literária dos impasses de mulheres norte-americanas de classe média na década de 1950.