Curiosidades 05/03/2020 - 15:40

O Poe é pop

Do cinema ao futebol americano: alguns exemplos da influência de Edgar Allan Poe para além da literatura

João Lucas Dusi

 

Um brinde

Por mais de meio século, uma homenagem aconteceu no túmulo honorário de Edgar Allan Poe (1809-1849), no cemitério de Westminster Hall, em Baltimore. No dia do aniversário do autor (19 de janeiro), desde 1949, um homem misterioso ia até seu cenotáfio (lápide onde o corpo não está enterrado) deixar três rosas vermelhas, carregando uma garrafa de bom conhaque francês e vestindo roupas pretas. Após um brinde à memória de um dos mais importantes nomes da literatura ocidental, a figura — conhecida como “Poe Toaster” (algo como “alguém que brinda ao Poe”) — deixava as flores e partia. A tradição caiu nas graças dos curiosos e parece que, ao longo dos anos, foi passada de pai para filho — que não levou o compromisso anual tão a sério. As visitas cessaram em 2010, quando começaram a aparecer impostores — facilmente identificáveis devido aos erros que cometiam com relação aos procedimentos metódicos do visitante original.

um brinde

 

Vincent

No primeiro curta-metragem de animação do diretor norte-americano Tim Burton, lançado em 1982, Vincent Malloy tem 7 anos de idade e é aficionado por Edgar Allan Poe. Ele mora com a família, mas preferiria dividir o espaço com aranhas e morcegos. Quando não está sonhando em transformar seu cachorro em um zumbi, para que possam sair atrás de vítimas em meio ao nevoeiro de Londres, o menino imerge nas narrativas de Poe. Nesse universo obscuro, a imaginação vai longe e o faz sentir-se atormentado, quase insano. A mãe tenta salvá-lo da iminente derrocada, avisando que há sol fora do quarto e que o dia está bonito, e que ele não está louco coisa nenhuma. Tarde demais. A criança que queria ser Vincent Price — famoso ator de filmes de suspense e terror que narra esse curta produzido em stop motion — sucumbe à tormenta, citando versos de “O Corvo”.

Ilustração

 

Mascote

O animador oficial da torcida do time de futebol americano da cidade de Baltimore, os Ravens (“Corvos”), atende pelo nome de Poe. A princípio, ele não estava sozinho. Acompanhado de seus irmãos Edgar e Allan, o trio formava uma homenagem completa ao escritor nortea-mericano, no que cada um deles trazia qualidades que um jogador precisa ter para exercer determinada função dentro de campo — um mais alto e de ombros largos (Edgar), outro mais baixo e magro, porém muito rápido (Allan), e um terceiro que é pequeno e robusto. Após o final da temporada de 2008, no entanto, os dois primeiros se aposentaram e Poe virou o mascote exclusivo do time.

mascote

 

Em quadrinhos

No ano passado, a editora Figura trouxe ao Brasil os traços do quadrinista italiano Dino Battaglia (1923-1983), dono de um estilo que joga com luzes e texturas, tornando-o uma opção acertada para transformar em histórias em quadrinhos as narrativas de Edgar Allan Poe. A Máscara da Morte Rubra e Outros Contos de Poe reúne trabalhos de Battaglia publicados originalmente na revista italiana Linus, entre 1968 e 1973. Além do conto que dá nome à obra, a coletânea traz “A Queda da Casa de Usher”, “A Peste” e “A Extraordinária Aventura de Hans Pfaall”, entre outros. 

A máscara da morte Rubra

 

Cinema

Em 1968, o italiano Federico Fellini e os franceses Roger Vadim e Louis Malle lançaram suas versões cinematográficas de três Histórias Extraordinárias de Poe. No filme, os contos “Metzengerstein” (Vadim), “William Wilson” (Malle) e “Nunca Aposte Sua Cabeça com o Diabo” (Fellini) são reinterpretados pelos diretores, com atuações de nomes como Brigitte Bardot, Alain Delon e Jane Fonda. As narrativas passam pela clássica história do duplo (uma versão análoga ao personagem principal, mas que tem um comportamento ardiloso), alcoolismo, avareza, suicídio e um pacto com o anjo caído.

Ilustração: Cinema

 

Teatro

Em homenagem aos 210 anos de nascimento de Edgar Allan Poe, em 2019, a Companhia Nova de Teatro — fundada em São Paulo pelo diretor Lenerson Polonini, em parceria com a atriz e figurinista Carina Casuscelli — montou o espetáculo “A Cripta de Poe”. A peça, que conta com apoio videográfico para criar um clima fantasmagórico e de suspense, foi baseada no poema “O Corvo” e nos contos “William Wilson”, “Ligéia”, “Berenice”, “O Retrato Oval” e “O Espectro”. A partir desse mergulho no universo do autor nortea-mericano, a apresentação — dirigida por Polonini — traz tudo o que há de neurótico e obscuro nos textos. 

Ilustração: Teatro

 

Fotos: Reprodução